20
ago
06

5.

ela estala os dedos diante de meus olhos e posso ver a dúvida surgindo em seu humor vítreo.

“Sr.Profit? O sr. está bem?”

“Escuta, Amélia, eu já não te disse pra me chamar só de Lucas?”

depois de ter dito isso me arrependo e posso adivinhar a resposta.

“Eu poderia ser educada e dizer que já, sim. Mas prefiro ser honesta inclusive com as pequenas coisas.”

tento desconversar?

“Se é assim, me diga, afinal, o que pretende de mim…”

“Mas é simples, sr. Profit: que me ajude a localizar as relíquias da Ordem.”

“Uma marreta e um prego?”

“Mais pra um cravo, mas sim. É isso.”

penso em me recostar na cadeira e lembro que não estou sentado. penso em acender um cigarro e lembro que não fumo. penso em abrir meu laptop e lembro que não tenho um.

“Você sabe como funciona, não? Diária e despesas por conta do cliente.”

“Imaginei que seria assim.”

ela estende a mão. noto que o único anel a adorná-la traz uma espécie de escudo medieval e me pergunto se seria esse o símbolo de sua Ordem. o desenho está ininteligível. pra mim, pelo menos, sem óculos e a essa distância. claro, além do anel há um envelope entre seus dedos indicador e polegar. a palma voltada pra cima. significaria algo?

“Aqui tem 10 dias adiantados mais uma projeção de gastos com alimentos e combustível. Infelizmente nossa ordem não tem contato com o mundo secular o bastante para sabermos se os valores são adequados, mas o sr. sempre poderá trazer as notas fiscais do que consumir para que possamos compensá-lo adequadamente.”

meu deus. isso é o que chamam controle. a proposta será problema ou solução?

“Pelo preço que estou fazendo talvez eu não me mantenha organizado o bastante pra trazer comprovantes de todos os gastos, Amélia.”

“Nós teremos que confiar no sr., então.”

“Agora eu sei que já falei a respeito do uso de sr. quando se dirigir a mim, Amélia. Me sinto desconfortável por estar usando seu primeiro nome enquanto você me trata tão formalmente.”

“Mil perdões. Não quis causar transtorno algum. É só um hábito arraigado demais. Difícil de superar tão rapidamente. Lamento.”

“Tudo bem, tudo bem.”

o silêncio constrangedor poderia ser menos doloroso se minha mente vagueasse livre como antes. agora, no entanto, estava novamente perdida na contemplação da beleza física apertada em tecido de amélia e não me ocorreu nada que merecesse ser dito. só feito. mas não proporia a ela tão cedo. tentaria esperar mais uma hora ou duas.

“Tem idéia de por onde começar?”

quem disse isso? eu, ela, outra pessoa?

“Eu disse isso em voz alta?”

“O sr. fala da ‘proposta’ que está pensando em me fazer nas próximas horas?”

deus!

“Não, perguntei se tem alguma idéia de por onde começar a investigação.”

“Na verdade fui eu quem fez essa pergunta. Uma tentativa de mudança de assunto. O sr. se ofenderia se eu dissesse que a ‘proposta’ que tem em mente é impossível de ser aceita?”

“Posso perguntar o motivo, pelo menos?”

“Meus votos.”

eleição? ela está pensando em eleição?

“Perdão, mas não acho que uma diferença partidária qualquer deveria servir como desculpa pra repudiar meus avanços…”

“Não são esses votos, Lucas!”

“Vai me dizer…”

“Eu sou freira.”

deus!



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