Arquivo para 15 de novembro de 2006

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29.

então, você provavelmente já assistiu ‘a mosca’. jeff goldblum e coisa e tal. sabe aquela fase em que o sujeito parece estar sofrendo de uma caso sério de acne? não, pior do que o sempre presente garoto-com-cara-de-pizza. alguns pontos do rosto do mosca parecem prestes a se desprender do osso. pense o oposto de agradável e eleve a potência ‘n’. está esquentando.

"Mosca, esse aqui é o Lucas. Lucas, isso aqui é o Mosca."

imagino que essa seja a idéia de lúcio de diversão. tirar sarro pra disfarçar o espanto e a repulsa. por reflexo quase estendo a mão e termino agradecido ‘a figura lamentável e de modos antissociais por simplesmente encolher os ombros e se esconder por trás de seus óculos grandes, grossos e ensebados.

"Hém. Prazer." ele diz, afinal.

"O prazer é meu."

"Quanta formalidade, senhores. Mas vamos aos negócios. Mosca, salvou o prego?"

"Pois é. Está aqui em algum lugar."

por mais que isso devesse me deixar motivado, não deixa. o galpão (não parecia tão grande assim quando entramos) onde mosca vive está entulhado de todo tipo de objeto. a predominância de papel é gritante. há estantes em todos os cantos. a ‘sala de estar’ (entenda que se trata do lugar onde mosca está nos recebendo) tem sofás e poltronas. embaixo de toneladas de papéis.

"Sentem aí que eu vou procurar o negócio."

piada. tem que ser uma piada.

"Sentar onde, maluco?"

"Ahém… é só tirar tudo e colocar no chão."

que chão?

"Mas depois coloquem tudo de volta que senão me perco na leitura… tá tudo em ordem e vou lendo conforme dá."

forço a vista tentando entender o que está escrito na folha de cima da pilha que movo. sem sucesso. língua desconhecida. os caracteres lembram um pouco aqueles peixes de águas profundas. se é que são caracteres.

mosca some por uma porta lateral e ouvimos o barulho de móveis sendo mudados de lugar. depois, de desabamento. a seguir, um ou outro grito sufocado. pequenas patas batendo no chão enquanto fogem do contato com seres humanos (?). parece um estouro de manada em escala gulliveriana.

"Ele consegue se achar com toda essa tralha por aí?" não consigo evitar de perguntar.

"Mesmo que demore mais meia hora."

"Já passou tudo isso?"

"O tempo, meu caro Bono, é mais relativo aqui do que ‘lá fora’."

o que quer que isso signifique.

shawn (ou chá – será que isso importa?), que tinha ficado só na porta até agora, entra com um ar espavorido.

"Lúcio?"

"Quié?"

"Tem uma coisa lá fora… parece que tá multando a gente."

"Tudo bem, não esquenta. Deve ser um ‘guardião de limiar’ desocupado brincando de guarda de trânsito."

"Como é que eu vou pagar a multa depois, cara?"

"Sangue de gato, velho. O bom e confiável sangue de gato. Não se preocupa não que tenho uma ou duas ampolas na geladeira lá de casa."

meu deus. eu tô ouvindo mesmo tudo isso? há quanto tempo estou alucinando? é tudo derivado do esgotamento pós-coito que tive?

finalmente, dos recessos mais tenebrosos do galpão, mosca volta com algo nas mãos trêmulas.




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