Arquivo para 11 de novembro de 2006

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28.

a idéia, pelo que entendo, é me deixar injuriado. e posso afirmar com certeza que ele consegue. além de me tirar da ‘pista’ e me privar do vislumbre de paraíso que são as partes pudendas da garota de peruca rosa claro, lúcio ainda me vem com essa:

"O primeiro lugar em que te procurei depois do sumiço da chácara de Celso foi num certo convento. E adivinha só quem eu conheci lá?"

claro. me irrita saber que ele se intrometeu a ponto de ir atrás de amélia, mas me irrita mais ainda o que ele diz a seguir:

"Ela é bem jeitosa, mesmo. Pruma freira, quer dizer."

tento mudar de assunto:

"Falou com teu camarada do prego?"

"Ah, sim."

"E ele encontrou?"

"Deixa isso pra quando a gente encontrar o cara pessoalmente."

ele quer mesmo me encher.

"Amélia tem um jeito especial de falar com a gente, né, Bono?"

que é que isso quer dizer?

"Como?"

pra mim ela pareceu bem fria e objetiva, na verdade.

"Ela meio que fala com as mãos, sabe?"

"Explica!"

"Tipo, ela tem necessidade de tocar o interlocutor enquanto fala."

meu deus!

"Ela te tocou? Onde?"

"Ah, não é nada disso. Só no braço, no ombro. Coisa normal, nada demais."

pra você! em mim ela não pôs um dedo.

"É, é verdade. Ela é assim o tempo todo."

por que eu daria esse prazer pro canalha? quer dizer, porque diria que ela nem chegou perto de mim? que me rejeitou todas as vezes que sugeri que a gente devia se conhecer mais ‘de perto’ (entenda-se: biblicamente)?

mas não falo, é claro.

andamos durante alguns minutos até um táxi que parece bastante familiar. chá tem uma latinha aberta no painel e acalenta idéias que desconheço, formando pequenas estruturas com os dedos diante dos olhos. algum tipo de mania nova, acho.

"Chá?"

reajo diferente dessa vez. não agradeço. não digo que prefiro café ou o bom e velho jack. fico quieto.

ele repete:

"Chá?"

resisto.

chá está falando comigo. por segundos (perdi a conta de quantos) pensei que era lúcio que falava com chá. ele tem uma lata fechada entre os dedos outrora ocupados com estruturas desconhecidas.

agradeço e pego.

"Chá…" dessa vez é lúcio quem fala.

"Vamos até o muquifo do Mosca, meu velho."

"Já te falei que é Shawn, Lúcio!"

"Dá na mesma. A pronúncia é quase idêntica, porra!"

o carro dispara rua abaixo e diminui a marcha depois de alguns minutos. chá dirige com cuidado. parece procurar pontos de referência a partir dos quais possa se guiar no labirinto que é o centro velho da cidade. esquerda-direita etc. entramos num boulevard escuro que parece não levar a lugar algum. então, da escuridão vem uma luz insuportável que nos envolve, desfaz e transporta. abro os olhos chocado. estamos no mesmo lugar. estamos em um lugar totalmente diferente daquele em que estávamos antes.

"Que porra!"

"Depois da primeira vez você se acostuma, Bono."

"Onde é que a gente tá?"

"No mesmo lugar que antes. A vibração é que é diferente."

não entendo. ou entendo cada vez menos.

"Vamos lá. Vamos ver o Mosca."




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